11 de agosto de 2010

Devaneio

Joguei meu livro pela janela,
para ver se ele voava.
Não é que ele voou, levíssimo,
feito pássaro branco?

Quero escrever sobre muitos pássaros,
o ar muito me agrada,
quero voar, por que não?
Cobrir de escritos em tinta,
alguma coisa alada.

Alado é o sonho poético,
e o texto se desgruda do papel
e vira suspiro.
Ah, suspirei muitas letras,
finalmente posso escrever em paz.

Centro - periferia

"quebrei a porcelana favorita da estante.
foi assim sem querer
varrendo lá e cá,
a vassoura esbarrou, não pude segurar."

será que a sua empregada
tem segurança no trabalho?
a pobre esfrega, limpa,
sua casa é a louça que brilha
nas mãos da empregada.

a criada se dependura
janela abaixo, lá é a rua
quase não sente os pés
polindo, lavando,
limpando suas vidraças.

paninho úmido, lustra móveis,
serviço de babá a seus filhos.
você, que se posta no sofá
arrogante,
sua sala está limpa
o chão brilha
(ele é de mogno)
a empregada já passou a enceradeira.

quebrou a porcelana favorita da estante,
uma pena
três décadas na família,
a empregada conhece o caminho da porta de entrada
que agora vira de saída.

e como se não bastasse,
pegou o elevador de serviço
até a portaria
onde se despede do trabalho
demitida.

passe os dedos sobre os móveis,
depois de uma semana.
sim,
a empregada já pegou o trem para casa.