O bonde passa cheio de pernas,
pernas brancas pretas amarelas.
Passa o meu tempo, contratempo,
pois desdigo o que penso
já que não posso mais falar.
A veia do poeta é turva
e os cabelos ralos
(cobrindo olhos cansados).
Sua caneta defeca bolinhos de tinta
que já não dizem nada,
mas outrora disseram
o que ninguém mais expressaria.
Pegue, doutor, esta tesoura,
e corte minha singularíssima pessoa.
Aqui jaz o eu-lírico
estirado sobre o papel,
que a tinta suja, afaga e refresca.
Sangue, por que não?
posto que há sentimento,
talvez um monte de nada
que preenche umas linhas.
Se é para isso que serve o poeta,
eu te digo, poesia:
de tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo
e sempre
e tanto.
Se insiste em morrer
eu também me morro em palavras:
mas que seja infinito enquanto dure.
Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras — quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.
30 de dezembro de 2009
27 de dezembro de 2009
Parangolé
Na dança gira feito roda
Rodam pés, cabeças tortas.
Braços de vento, rodopios,
gira-girou vestido.
Anil desbotado, flor no cabelo,
braços de vento, pés em roda.
E a dança consome o chão,
Consome o pé, o pó da terra,
terra que gira,
roda,
gira-girou.
Dança dos braços e abraços,
dos quase movimentos
longilíneos, entrelaçados.
E dança
E roda
E rodopia
Aproveita toda essa gira
que se mantinha viva
e num gira-girar
parou.
Rodam pés, cabeças tortas.
Braços de vento, rodopios,
gira-girou vestido.
Anil desbotado, flor no cabelo,
braços de vento, pés em roda.
E a dança consome o chão,
Consome o pé, o pó da terra,
terra que gira,
roda,
gira-girou.
Dança dos braços e abraços,
dos quase movimentos
longilíneos, entrelaçados.
E dança
E roda
E rodopia
Aproveita toda essa gira
que se mantinha viva
e num gira-girar
parou.
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