Formas de compasso
apressadas
duras e bem formadas
na parede no espaço
do meu lado
eu que passo
com muita pressa
sentindo os pedaços
nos olhos - sem tato
mas um dia passo
e amasso
tudo aquilo que está
ao meu alcance.
Corpo passando pela forma
as formas unindo-se ao corpo
sentidos atrelados
o sólido mascarado.
É que o tempo não me deixa ver
ele não me deixa isso
ou aquilo
qui-los,
mas não posso,
perdoe-me
mas não me confunda os sentidos.
A Via Crucis da Poesia
Para escrever tenho que me colocar no vazio. Neste vazio é que existo intuitivamente. Mas é um vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras — quais? talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.
17 de janeiro de 2011
30 de novembro de 2010
Se tudo fossem cores, riscos, rabiscos sem destino, pincéis, amores, olhares vítreos e petrificados, pouso congelado e internamente reverberante (altamente entrópico): é que estou parado em frente à tela lisa de brancura e chamo de vida aquilo que represento
Tintas misturadas
joguei, muito bem,
todas contra a parede - vasos, veias, capilares.
V a g a r o s a m e n t e levantado,
do chão retirei papel,
fiz voar cataventos, aviões, astronautas.
Copo com lápis,
carvão-bastãozinho,
surgem na mesa caminhos de terra.
Plantas aladas,
tons de verde em crepom,
vermelho encardido do seu coração.
Dizem: com água, tudo se arremata.
Estou estarrecido, por favor, não me interrompa.
Sobrou uma folha, muito branca e bonita, muito lisa
e fito com cuidado, laços de fita, desamarrados, idos com o vento,
do cabelo outrora atado
Pego o copo, bebo a água
- não esqueço: apago as luzes do ateliê.
joguei, muito bem,
todas contra a parede - vasos, veias, capilares.
V a g a r o s a m e n t e levantado,
do chão retirei papel,
fiz voar cataventos, aviões, astronautas.
Copo com lápis,
carvão-bastãozinho,
surgem na mesa caminhos de terra.
Plantas aladas,
tons de verde em crepom,
vermelho encardido do seu coração.
Dizem: com água, tudo se arremata.
Estou estarrecido, por favor, não me interrompa.
Sobrou uma folha, muito branca e bonita, muito lisa
e fito com cuidado, laços de fita, desamarrados, idos com o vento,
do cabelo outrora atado
Pego o copo, bebo a água
- não esqueço: apago as luzes do ateliê.
11 de agosto de 2010
Devaneio
Joguei meu livro pela janela,
para ver se ele voava.
Não é que ele voou, levíssimo,
feito pássaro branco?
Quero escrever sobre muitos pássaros,
o ar muito me agrada,
quero voar, por que não?
Cobrir de escritos em tinta,
alguma coisa alada.
Alado é o sonho poético,
e o texto se desgruda do papel
e vira suspiro.
Ah, suspirei muitas letras,
finalmente posso escrever em paz.
para ver se ele voava.
Não é que ele voou, levíssimo,
feito pássaro branco?
Quero escrever sobre muitos pássaros,
o ar muito me agrada,
quero voar, por que não?
Cobrir de escritos em tinta,
alguma coisa alada.
Alado é o sonho poético,
e o texto se desgruda do papel
e vira suspiro.
Ah, suspirei muitas letras,
finalmente posso escrever em paz.
Centro - periferia
"quebrei a porcelana favorita da estante.
foi assim sem querer
varrendo lá e cá,
a vassoura esbarrou, não pude segurar."
será que a sua empregada
tem segurança no trabalho?
a pobre esfrega, limpa,
sua casa é a louça que brilha
nas mãos da empregada.
a criada se dependura
janela abaixo, lá é a rua
quase não sente os pés
polindo, lavando,
limpando suas vidraças.
paninho úmido, lustra móveis,
serviço de babá a seus filhos.
você, que se posta no sofá
arrogante,
sua sala está limpa
o chão brilha
(ele é de mogno)
a empregada já passou a enceradeira.
quebrou a porcelana favorita da estante,
uma pena
três décadas na família,
a empregada conhece o caminho da porta de entrada
que agora vira de saída.
e como se não bastasse,
pegou o elevador de serviço
até a portaria
onde se despede do trabalho
demitida.
passe os dedos sobre os móveis,
depois de uma semana.
sim,
a empregada já pegou o trem para casa.
foi assim sem querer
varrendo lá e cá,
a vassoura esbarrou, não pude segurar."
será que a sua empregada
tem segurança no trabalho?
a pobre esfrega, limpa,
sua casa é a louça que brilha
nas mãos da empregada.
a criada se dependura
janela abaixo, lá é a rua
quase não sente os pés
polindo, lavando,
limpando suas vidraças.
paninho úmido, lustra móveis,
serviço de babá a seus filhos.
você, que se posta no sofá
arrogante,
sua sala está limpa
o chão brilha
(ele é de mogno)
a empregada já passou a enceradeira.
quebrou a porcelana favorita da estante,
uma pena
três décadas na família,
a empregada conhece o caminho da porta de entrada
que agora vira de saída.
e como se não bastasse,
pegou o elevador de serviço
até a portaria
onde se despede do trabalho
demitida.
passe os dedos sobre os móveis,
depois de uma semana.
sim,
a empregada já pegou o trem para casa.
20 de junho de 2010
Coquetel
I.
P R O V A
A P R O V
V A P R O
O V A P R
R O V A P
V A P O R
P A V O R.
II.
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
Sujo
Violento
Inseguro
Porém lindo.
III.
Nuvens, bichos, todos soltos.
Selva de espuma e verniz,
estirados em um quadro
hermeticamente pintados.
Pinto o céu, azul anil,
índigo oceano, água profunda.
Mar, espelho do céu,
reflexo do olhar.
Nesse mar
eu vou me afogar,
na verdade, quero voar:
ave a piar,
sou gaivota a plainar.
P R O V A
A P R O V
V A P R O
O V A P R
R O V A P
V A P O R
P A V O R.
II.
O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo
Sujo
Violento
Inseguro
Porém lindo.
III.
Nuvens, bichos, todos soltos.
Selva de espuma e verniz,
estirados em um quadro
hermeticamente pintados.
Pinto o céu, azul anil,
índigo oceano, água profunda.
Mar, espelho do céu,
reflexo do olhar.
Nesse mar
eu vou me afogar,
na verdade, quero voar:
ave a piar,
sou gaivota a plainar.
11 de fevereiro de 2010
Minha gaveta quebrou e dela saiu um animozinho que faltava
Há uma gota de sangue em cada poema.
Há poesia nas paredes de toda casa,
nos vasos de flores que tudo escutam e veem.
Há poesia na nuvem que passa,
formatos inconfessos que o olhar cuidadoso deflagra.
Há poesia na vida e na morte
A morte morrida à duras penas vivida.
Há poesia no trânsito caótico
No cinza-concreto de todo dia,
no caminho do pão-nosso de cada dia.
Há poesia na reza, no choro inconsolável,
no riso que estala
na hora certa (ou errada).
Há poesia às cinco da manhã,
no primeiro abrir de olhos do dia.
Há, sim, poesia nos dias,
com a certeza de que muitos outros virão
e que com a mesma leveza irão embora.
Ah, eu? Eu não me importo.
Seja vivo ou seja morto,
olhos abertos ou fechados,
eternizo-me nestes versos
propositadamente mal rimados.
Há poesia nas paredes de toda casa,
nos vasos de flores que tudo escutam e veem.
Há poesia na nuvem que passa,
formatos inconfessos que o olhar cuidadoso deflagra.
Há poesia na vida e na morte
A morte morrida à duras penas vivida.
Há poesia no trânsito caótico
No cinza-concreto de todo dia,
no caminho do pão-nosso de cada dia.
Há poesia na reza, no choro inconsolável,
no riso que estala
na hora certa (ou errada).
Há poesia às cinco da manhã,
no primeiro abrir de olhos do dia.
Há, sim, poesia nos dias,
com a certeza de que muitos outros virão
e que com a mesma leveza irão embora.
Ah, eu? Eu não me importo.
Seja vivo ou seja morto,
olhos abertos ou fechados,
eternizo-me nestes versos
propositadamente mal rimados.
Poeminha singelo
Risinhos de crianças que corriam serelepes
Ali e agora como se não existisse o mundo
"Bento que Bento é o frade?!"
Interrompidos são pela mãe que grita:
"Sai daí, já para casa que tem perigo de noite!"
Corre e corre e corre (pressa).
O vento canta, janela fecha, criança dorme: folia nova amanhã de manhã.
E eu? rabisco.
Ali e agora como se não existisse o mundo
"Bento que Bento é o frade?!"
Interrompidos são pela mãe que grita:
"Sai daí, já para casa que tem perigo de noite!"
Corre e corre e corre (pressa).
O vento canta, janela fecha, criança dorme: folia nova amanhã de manhã.
E eu? rabisco.
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